Foto: Camila Legey com Antonella Corda em maio deste ano (2022)
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Vermentino “di Sardegna”, então vamos falar desta ilha italiana! Além dos mares de cores azuis variados e praias de areia branca amadas por turistas, a Sardenha abriga 120 variedades de uvas nativas, sendo a Vermentino para brancos e Cannonau para tintos as castas mais dominantes por lá!
A vinícola Antonella Corda que o guia de vinhos italiano Gambero Rosso nomeou “adega emergente do ano” em 2019, é resultado de um conhecimento vitivinícola que tem sido transmitido há 3 gerações e que Antonella, pertencente à renomada família Argiolas, herdou.
Nos rótulos lê-se “di madre in vigna”, uma receita genuína, que pode ser definida como uma receita de família - “de mãe para a vinha”, baseada em valores simples e eficazes: paixão pelo trabalho, amor pela terra e respeito pelas tradições. Depois de terminar seus estudos, Antonella, que nasceu em Serdiana - uma zona particularmente vocacionada para a agricultura, coberta de olivais centenários, campos de cereais, pomares e sobretudo vinhas espectaculares - não fez nada além de usar esses princípios para fundar sua propriedade em 2010, em terras herdadas do seu avô.
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A paisagem com as vinhas da vinícola Antonella Corda
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As terras cultivadas estendem-se por uma área de cerca de 40 hectares, dos quais 15 são dedicados exclusivamente ao cultivo da vinha. A vinha mais querida do seu avô António Argiolas é a Mitza Manna, espalhada por cerca de 6 hectares e localizada a cerca de 200 metros acima do nível do mar. Ali estão predominam as castas brancas Vermentino e Nuragus em solos arenosos, argilosos e com uma presença significativa calcária realçando o frescor natural e o bouquet floral dos vinhos. Do outro lado, está a vinha Mitza S'ollastu, localizada na fronteira da cidade de Ussana, com as uvas indígenas Vermentino e Cannonau. A mistura de areia, barro, argila e seixos do solo garante o equilíbrio perfeito necessário para dar a esses vinhos um caráter decisivo e genuíno.
Na companhia do marido Christian, Antonella cultiva organicamente e produz apenas quatro vinhos: dois com a uva Vermentino (o primeiro, que trouxemos para o nosso portfólio e segundo, fermentado e envelhecido em ânforas), um terceiro produzido com a uva também branca, Nuragus e um tinto de Cannonau (também conhecida com garnacha, na Espanha ou grenache, na França).
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Vermentino em fase de formação dos bagos (maio/2022)
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Em nossa visita, a enóloga nos explicou o quanto importante foi iniciar a sua prática em produzir vinhos com a casta Vermentino. Para ela, esta que é a uva que produz o vinho branco mais importante da Sardenha, tem sua força oriunda de sua versatilidade. É também uma uva que gosta de solos arenosos e calcários, que fornecem grande expressão à sua natureza aromática. Tem acidez naturalmente média, notas de pêssego, flores brancas, maçã, sálvia e cítricos de limão.
Com a colheita manual, a prensa suave, Corda resguarda a fruta usando gelo seco para preservar os aromas e reduzir o uso de SO2.
“Fazemos nosso Vermentino inteiramente em aço inoxidável – sem carvalho. Algumas das uvas têm algumas horas de contato com a pele, outras com mais tempo e outras sem contato com a pele; isso dá um equilíbrio muito bom, frescura e expressão varietal.” Ela explica e continua:
“A maioria dos Vermentinos são feitos para serem bebidos jovens, mas você pode envelhecer alguns dos vinhos de maior qualidade por alguns anos – ele se desenvolve de maneira semelhante ao Riesling, mostrando mineralidade e caráter petrolífero.”
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Interior da Cantina Antonella Corda
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Na pequena adega, são utilizados equipamentos modernos, tanques de aço, barris de madeira e três ânforas. Antonella, ao nos mostrar a adega, relembra que os vinhos embalados e empilhados dão lugar para os cestos (que agora estão do lado de fora) durante a época de vinificação.
Quando estivemos lá, também tivemos a oportunidade de degustar o azeite produzido por Antonella dos 12 hectares plantados com as variedade locais Tonda di Cagliari e Pitze Carroga. Um projeto que se tornou realidade em função da “pausa” forçada durante o período de pandemia e que Antonella se orgulha por contribuir assim com a cultura e história local mesmo sem um retorno financeiro compensatório.
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A simplicidade da arquitetura tradicional da adega
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A delicadeza extremamente envolvente do trabalho de Antonella tem a força da tipicidade de local que está, além de nos vinhos, refletida na arquitetura da adega. Antonella quis retratar a tipologia tradicional da região com as portas feitas de madeira, em arco, como se ainda fossem entrar por ali os animais e carroças usadas em algum tempo de sua história. A elegância está na construção, no diálogo com a paisagem e na simplicidade de como são produzidos os vinhos.
Trouxemos duas safras do Vermentino, a 2019 e a 2020. Antonella conta que ambos foram ótimos anos mas 2020 ainda melhor em função de não ter havido nenhum evento climático extremo, o que favoreceu uma safra ainda mais elegante, intensa e equilibrada (veja as notas de prova aqui).
Antonella que há 3 meses teve seu primeiro filho, está sem dúvida cumprindo o seu papel nesta linda e forte história de família e lugar.
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Entrada da vinícola em Serdiana
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