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Câmbio: um Blanc de Noir português

Já faz quase 1 ano que gravamos a live com a degustação do Câmbio Blanc de Noir 2018. Estávamos no início da pandemia e este foi um canal novo de interação com quem nos seguia no Instagram. Com o Dirceu e o Gonçalo, um em Londres e o outro no Rio, viajamos virtualmente até o Tejo, mais especificamente até a sub-região do Cartaxo. 

Deste bate-papo riquíssimo, intercalado pelas impressões do Dirceu e de quem nos assistia e degustava o nosso Blanc de Noir português, tiramos alguns trechos e curiosidades para montar este artigo. A live completa continua disponível no nosso perfil (@4uwine).

Live Câmbio Blanc de Noir

Um vinho exótico nascido de uma necessidade

Esta é uma história interessante por se tratar de um vinho que nasceu para ser tinto mas foi vinificado como branco. Mas não é por isso que ele se torna um vinho peculiar, há vários outros aspectos que despertam curiosidade! Pelo lado comercial, o produtor tinha uma  necessidade de fazer vinho branco e, sendo de uma região específica de Portugal onde produz-se mais vinhos de volume, a busca por qualidade foi algo que inquietava o jovem enólogo João Pedro Batista (abaixo na foto com o pai).

  

A região

Localizada a aproximadamente 60km de Lisboa, relativamente próxima ao mar, a sub-região do Cartaxo, no Tejo, pode ser divida em 3 terroirs principais:

     

    Região do Tejo - Cartaxo
    • o Bairro (margem direita do rio) com solos de melhor qualidade (de argila, calcário, até xisto na parte Norte) onde se fazem tintos de ótima qualidade;
    • a Charneca (margem sul), mais plana, seca, com mais areia e temperatura mais elevada, as uvas nesta região tendem a amadurecer mais rapidamente e;
    • o Campo (ou Lezíria) com solo pesado, muito perto do rio e por isso fértil demais para fazer vinhos de alta qualidade. É nesta região que o Câmbio é produzido, nitidamente uma excessão!

    A necessidade comercial

    Sendo esta região de solos férteis e portanto com alto rendimento - o que se traduz geralmente em quantidade e não qualidade, o enólogo sentia necessidade de buscar mais concentração, um vinho de melhor qualidade. A poda mais dura já era um recurso utilizado, o que mais poderia ser feito?

    Outro desejo era expandir a produção de vinhos brancos. Ali havia o cultivo das castas brancas Fernão Pires, Alexandria, Muscat, Arinto e de tintas Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah, Caladoc e Tinta Barroca.

    Os dois desejos foram realizados pelo uso da criatividade do enólogo de mentalidade tipicamente aberta, que já viajara para estudar na Austrália e para trabalhar no Brasil.

    Durante a colheita mecânica, com o peso dos cachos de uvas, uns sobre os outros e no trepidar do transporte no terreno de terra até a adega, o enólogo aproveita e drena todo o suco de uva que se forma. Este líquido, ainda sem nenhum contato com a casca tinta é portanto branco, como o interior da uva Tempranillo apesar da casca tinta. A vinificação é feita em tanques de inox, como vinho branco. Além de produzir um vinho branco de uvas tintas (sem desperdício algum) o enólogo consegue aumentar a concentração do vinho tinto que produz.

    Assim nasce este Blanc de Noir português, de altíssima qualidade! Um varietal de Tempranillo (nome que o produtor escolheu usar para esta uva que também é chamada de Tinta Roriz ou Aragonês) onde o que é interessante é perceber o volume na boca - quanto mais ganha a temperatura, mais densidade, amplitude e textura sente-se! “Um branco com alma tinta.” lembra o Dirceu das palavras usadas pela Sommelière Maria Emilia Atallah para descrever este vinho.

    O nome Câmbio, Champagne e Dom Perignon

    O enólogo explica o nome: “Câmbio” de “cambiar”, trocar tinto por branco! Câmbio também pela troca de experiências em uma referência a produção de espumante com uvas tintas, no caso a Pinot Noir, na região de Champagne.

    A lembrança de Dom Perignon é inevitável para Dirceu que nos chama atenção: “Muita gente acredita que o Champagne foi inventado por ele mas não é verdade! Dom Perignon foi um indivíduo muito importante, mas este foi um processo desenvolvido por vários anos e em várias regiões. Ele sabia podar, era gentil com a fruta, usava a mula ao invés do cavalo para o transporte durante a colheita por ter o trote mais suave, mais delicado e preservar as uvas. Em Champagne, ele foi a primeira pessoa a fazer um Blanc de Noir.”

    Colheita por máquina x manual

    Dirceu traz outra informação, desta vez estatística, ao comentar que a colheita das uvas utilizadas na produção do Câmbio é feita por máquinas e para desmistificar um estigma com o assunto.

    Sim, geralmente os grandes vinhos são feitos com colheita manual mas a colheita mecânica pode ser uma ferramenta de grande valor para a produção de ótimos vinhos.

    Segundo Dirceu, a máquina sendo boa, a adega estando próxima do vinhedo, por que não? Veja o momento de crise que estamos por exemplo! Houve uma escassez de mão-de-obra causado pela pandemia. A máquina entra como um recurso de muita utilidade. Em casos de urgência consegue-se reagir rapidamente, como por exemplo, à mudança de tempo que pode ser crítica para a colheita agilizando um processo, que se fosse manual, poderia resultar em uma perda considerável ou total da colheita e o trabalho de todo um ano. A máquina também facilita vindimar à noite.

    Máquinas fantásticas além de agilizar a colheita, realizam a seleção e podem diminuir a temperatura da uva durante este processo!

    “Temos que ser honestos!” Dirceu continua: “No Loire, cerca de 80% dos vinhos são colhidos por máquina! Em Chablis, 80% do vinhos também. Em Bordeaux, quando não falamos dos grandes vinhos e da região em si, 80%! Em outras vilas da Borgonha com vinhos fenomenais como Puligny-Montrachet, Meursault em época de colheita se vê máquinas por todo lado! Somente em vinhedos de encosta acontece a colheita manual. O volume maior da região é feito por máquinas.“

    Temperatura de serviço

    Esta foi um ponto que gerou perguntas durante o evento: qual seria a temperatura ideal para este vinho? Dirceu revelou-nos que estava aproveitando a ocasião para observar novamente o comportamento peculiar deste vinho que, segundo ele, com a temperatura naquele momento já revelava notas de frutas vermelhas e flores silvestres, respondendo: “Depende o que você quer. Essa é a maravilha deste vinho, ver como ele se revela com a temperatura!” mas, para dar uma resposta objetiva, recomenda: “10 a 12oC, menos que isso pode-se perder a exuberância, mais que isso, talvez o vinho se torne pesado demais.”

    A casta Tempranillo

    É uma casta com perfil muito alargado. Dependendo de onde está plantada, do terroir e do que o enólogo quer fazer, pode mostrar frutas vermelhas (groselha, cereja, morango) mas se o clima for mais quente a fruta fica mais escura (amoras, ameixa). Se o terroir for mais seco, percebe-se notas mais florais e se for colhido mais cedo até toques vegetais. Os taninos também podem variar de elegantes e sedosos até firmes e agressivos.

    Uma característica comum desta casta notada em diversas partes do mundo é a retenção de acidez mas Dirceu mostra que na sua experiência isso não é verdade. Para ele, essa casta tem baixa acidez e frequentemente os enólogos que ele conhece adicionam ácido tartárico (da própria fruta) para compensar.

    “É possível comparar a Tempranillo com outra casta?” pergunta Gonçalo. Dirceu diz que não! Entretanto, se for para compará-la a uma só casta, ele explica: se aproxima da Pinot Noir se colhida mais cedo, buscando boa acidez e sem uso de madeira. Se for feita uma poda muito curta, para obtenção de concentração, cor e for colocada em madeira americana, poderá lembrar Shiraz. Se houver envelhecimento em madeira por 2 ou 3 anos, com uma boa acidez e taninos firmes, ganha tons terrosos, de couro, de champignon e poderá lembrar Sangiovese!

    Harmonização

    Entre opções comentadas durante a live surgiram sugestões com sardinhas, peixes de rio assados no forno e até lámen sugerido por quem já tinha experimentado com o Câmbio na audiência. É sem dúvida um vinho versátil e ousado segundo Dirceu que faz a seguinte provocação: “Por que não ousar também na harmonização com pratos à base de carne pela sua alma tinta, podendo ser cruas ou, como opção, pratos que transitam entre terra-e-mar.”

    Estamos tratando de um vinho que tem textura de tinto e frescor de branco. Divertido seria ser a opção escolhida para o caso de um grupo onde parte prefere branco e parte, tinto! 

    “Este vinho me faz lembrar um Pinot Gris como os excelentes que são feitos na Alsácia ou Nova Zelândia! Uma vez participei de uma degustação às cegas em um ambiente de luz ultra-violeta e com taças escuras. Não era possível ver a cor do vinho. Muitos pensaram que o Pinot Gris da ocasião era um tinto pela textura que apresentava. Um bom Pinot Gris é mais denso e foi esta característica que me fez lembrar ao degustar o Câmbio. Faz mesmo todo sentido a sugestão de degustá-lo com carne!”

    Acesse a live completa sobre este vinho no nosso perfil do Instragram (@4uwine).